Saúde

“Vocês que não sabem comprar caneta esferográfica octogonal de escrita média na cor azul com corpo transparente e com respiro”.
Por João Batista (porque ninguém mais aguenta falar ouvir/ler o João Monteiro)
As prefeituras não sabem comprar caneta que escreva por mais de uma semana, não conseguem comprar um papel higiênico que tenha folha picotada e não esfole os, os dedos… como que vão comprar vacina ?
Brincadeiras à parte é verdade…
Na minha discussão/atuação de/em um processo de saúde, que envolve um tratamento de milhão/quase milhão, pra mim foi muito fácil… tapei de grito de vereda dizendo a não era culpa do município, é assim saímos do polo passivo. Mas segui acompanhando pela peculiaridade e extravagância da ação.
O Estado tentou escapar e chamou a União, a União muito esperta se escapou devolvendo o presente que o estado tentava lhe dar.
Ninguém de nós sabíamos e saberíamos o que fazer, nem o farmacêutico da farmácia básica, nem a coordenadoria de saúde , nem a procuradoria do município, nem a procuradoria do estado, nem a defensoria da união, nem a defensoria do estado, nem a juíza …
Enquanto isso a paciente esperava.
Esperava o poder público decidir quanto vale uma vida. Afinal, se morre muito por aqui, é tão natural. Pobre morre mais, mas agora tá todo mundo morrendo, aí nos assustamos.
Trouxe essa narrativa (real) por analogia à crise que se vivência, porque o problema nesse processo não era dinheiro era como comprar, o mesmo que ocorre agora.
Na situação da menina nem o hospital universitário, que era referência e que tinha a expertise de tantos outros casos conseguia essa compra: importação, documentação, acondicionamento, risco, alto custo, pressa.
Então municípios, entendam…
A união ainda não deixou nem os estados assumirem as compras das vacinas, e não foi só pela peculiaridade de nosso presidente inteligente, mas porque eles ainda estão considerados como incapazes de conseguir fazer tais compras, e se os estados não conseguem, convenhamos né municípios, que dirá vocês, sozinhos e incompetentes até pra conseguir comprar caneta.
Com todo o sucateamento que vinha sendo feito a saúde, com toda a desvalorização proposital do sus, com toda a incompetência da gestão Bolsonaro para tanta coisa e principalmente para ser e fazer o Brasil respeitado internacionalmente, com lava jato, mensalões, petrolões, com toda a luta do conselho de medicina impedindo novos cursos nas faculdades e assim reservando mercado, com toda a elitização da profissão e endeusamento da falta de médico, das filas, da cara feia, (e não não estou falando de todos antes que venham se ofender), com todos os dedos de silicone que davam presença nos postinhos, e toda a prostituícao das demais áreas da saúde desvalorizadas, com todos os estádios pro povo do pão e circo, conseguiram… conseguiram fazer com que chegássemos onde chegamos.
Sim nós temos culpa, pelas junções, por trabalharmos, andarmos na rua, comprarmos, queeeemos nossos comércios não essenciais abertos, por não aguentarmos mais a máscara e as vezes a colocarmos no queixo, por não aguentarmos mais de saudade e irmos ver nossos familiares, por não aguentarmos mais de estresse e irmos ver o mar… mas não joguem a culpa somente nisso, assumam todos os gestores que a saúde foi e é piada, é dinheiro, números, desvios e política.
Com todos os riscos que possam existir de se participar de um consórcio ou até mesmo um pacto com o diabo ou o que for, é menos arriscado que por pura politicagem deixar o presidente messias que quer se reeleger, o gorvernador que quer ser presidente ou possível vice que sonhe ser prefeito protagonizarem a cena da tragédia anunciada, ficar sem, ficar pra trás, por egocentrismo e capricho, por negacionismo e ibope.
E eu que muito estudo e escrevo sobre a judicialização da saúde começo a querer falar e escrever sobre a “politicalhizacao” da saúde.
Tomara que eu morda língua e o beiço todo e venha aqui me retratar que nem um cusco molhado, mas como sempre digo, não quero ser o mensageiro do pessimismo, mas é calculável, presumível e iminente que não dará certo fazendo as coisas por conta, em separado e com fins escusos.
Já não deu com o Bolsonaro e sua incrível incapacidade de fazer acordos, não dará com o milk e seu rostinho bonito ordinário e muito menos com o Márcio que está confundindo, ou sendo induzido a confundir que tocar em frente é levar por diante.
Ah, a menina do processo não morreu, e se Deus, Ala, Jeová ou sei lá quem você prefere, quiser, não vai. E tomara que ninguém mais morra, porque estamos morrendo muito por aqui e isso não é normal, apesar do sistema estar há tempos querendo que se naturalize ser normal.
Tomara que tudo isso passe logo e sirva de lição para tratarmos com mais respeito a saúde e principalmente, com muito mais respeito a política